19 de março de 2010

Na antevéspera do Dia Mundial da Poesia

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
olhando para a direita e para a esquerda,
e de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
é aquilo que nunca antes eu tinha visto,
e eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
que tem uma criança se, ao nascer,
reparasse que nascera deveras...
Sinto me nascido a cada momento
para a eterna novidade do mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
porque o vejo. Mas não penso nele
porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(pensar é estar doente dos olhos)
mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
mas porque a amo, e amo-a por isso
porque quem ama nunca sabe o que ama
nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
e a única inocência não pensar...

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos"

Podcasts com poesia de Alberto Caeiro:

João Villaret em três poemas de Alberto Caeiro (ver)

Alberto Caeiro lido com outro sotaque, in Ondas Raras



Sem comentários: